Sempre
escuto falar a seguinte expressão: “Deveríamos viver como se fosse o último
dia”. Mas será que deveríamos viver está máxima? Vou expor outro lado, outra
maneira de viver.
“Deveríamos
viver como se esse fosse o primeiro dia de nossas vidas”. Pois é, é isso mesmo.
O primeiro dia.
É
no primeiro dia em que o nosso olhar se encanta pela simplicidade e pela
novidade, é nesse dia que o nosso olhar se demora perante as coisas, onde não
há a agitação do cotidiano, é nesse dia que vemos as pessoas com tamanha
alegria, pois elas estão ao seu lado. Veríamo-las sem os conceitos que já temos
sobre as mesmas, e abriríamos nossas almas para que elas possam ser acolhidas.
Olharíamos
as pequenas coisas com olhos diferentes, com olhos de magia e encantamento, e
não com os velhos olhos que já estão acostumados e habituados a tudo e a todos.
Ao
olharmos as árvores balançando pelo vento, deixaríamos de lado a descrença pela
natureza, mas veríamos a beleza daquele momento, ouviríamos com ouvidos atentos
o barulho e o farfalhar das folhas e dos galhos, e deixaríamos nos envolver
pela brisa que não refresca apenas as árvores, mas que também alivia o suor e o
cansaço do corpo e da mente.
Escreverei
sentado na grama um poema. Sem a métrica e sem rima. Apenas colocarei o meu
coração e os meus sentimentos nos versos. Melhor maneira de escrever não há,
pois essa é a essência da escrita.
Chegarei
a um vilarejo ou em um campo de guerra e darei o meu melhor sorriso. As pessoas
não irão entender e posso até ser chamado de louco, mas mesmo assim sorrirei.
Será uma forma de dizer a todos: “Podem acabar com os campos, as casas, as
cidades e até o nosso corpo, mas jamais poderão destruir nossas almas”.
Ao
me alimentar, sentirei um gosto incrivelmente saboroso no paladar. Podem as
mesmas comidas, o mesmo feijão com arroz, as mesmas bebidas de sempre, iguais,
mas com certeza nesse momento elas terão sabores diferentes. Provarei aquelas
comida que sempre disseram que era ruim e que nunca tive coragem de experimentar.
Beberei aquele chá amargo, e sentirei o doce que emana de suas ervas.
Ao
andar pelo meu bairro, farei outro caminho. Andarei pelas ruas que nunca pisei
e descobrirei a cada metro percorrido, a cada olhar lançado, um novo universo.
Deitado
em um campo, observarei as nuvens. Não aquelas descritas pela ciência, mas as
nuvens que se manifestam em milhares de formas. Verei um dragão, um cavalo, uma
pessoa ou qualquer objeto nelas e ficarei fascinado pelo seu movimento gracioso
no céu.
Pela
primeira vez vou ver o pôr do sol. Aquela estrela gigante começando a dividir o
espaço com as estrelas minúsculas.
Em
milhares de anos de observação e estudo estelar, acumularam-se muitas
explicações e teorias sobre as estrelas e os planetas. Esquecerei tudo isso a
respeito da astronomia. E de repente as estrelas serão pequenos anjos a
iluminar a imensidão da noite.
Vou
sorrir sem culpa.
Viverei
a vida sem me queixar que tudo é igual e que nada muda, pois estou vivendo esse
como se fosse o primeiro dia de minha vida.
Mesmo
tendo passado em inúmeros lugares e visto as mesmas pessoas, direi bom dia. Mas
hoje o meu “bom dia” será diferente. Não serão apenas palavras educadas, mas será
uma espécie de bênção, dizendo que sim, você é importante. Podem ser poucas
palavras, mas essas poucas palavras podem salvar o dia de uma pessoa que estava
se sentindo invisível perante todos.
Que
eu olhe para mim como se fosse a primeira vez. Que eu me aceite como sou. Uma
pessoa que caminha, busca, reza, sorri, chora, erra, acerta e que tem coragem.
Assim
terei vivido cada minuto, cada hora do dia como uma constante surpresa para eu
mesmo, assim como a inocência de uma criança que faz tudo pela primeira vez.
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