segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cartas de Guerra: a pequena refugiada

Utrecht, 5 de junho de 1944.
Querido Papai,
Oi Papai, estou morrendo de saudades. Mamãe está aqui mandando um enorme beijo em seu coração. Faz tanto tempo que não o vejo. O meu holandês ainda não está muito bom, e é por isso que mamãe está me ajudando a escrever essa cartinha.
Daqui a duas semanas é o meu aniversário de oito aninhos e rezo todas as noites para que o meu presente se concretize: que Papai volte para a sua casa e pra eu, a sua princesa.
A Holanda até que é legal. Estamos abrigados em uma casinha perto de um lindo bosque. Sempre quando acordo cedo fico ouvindo os pássaros cantarem em uma melodia afinadíssima. Infelizmente não posso sair muito daqui, pois mamãe diz que os soldados podem me levar embora.
Antes de vim para cá, me deparei com várias outras crianças da minha idade perambulando pelas ruas pedindo esmola e um pedaço de pão. Perguntei a mamãe porque aquelas crianças estavam fazendo isso e ela me respondeu que é o trágico resultado da guerra entre os homens.
Eu não entendo muito da guerra, mas sei que muitas crianças iguais a mim estão morrendo e outras vendo seus papais e mamães serem levados à força em enormes vagões. Mas de uma coisa eu tenho certeza absoluta: quero que a guerra termine, e quero que todos reencontrem suas famílias, assim como eu quero me reencontrar com o meu grande contador de histórias.
Às vezes quando vou a cozinha ajudar mamãe com o almoço, pego ela chorando e com as mãos tremendo. Ela tenta disfarçar, mas eu sei que ela chora por causa da guerra e de toda a dor que está causando às pessoas. E principalmente, sente a sua falta.
Hoje mamãe me mediu e constatou que eu cresci dois centímetros. Não é incrível? É por isso que as minhas roupas estão curtas. Acho que quando o senhor voltar não vai nem conseguir me carregar nas costas como nós fazíamos em nossa antiga casa.
Com toda a certeza do mundo, sei que retornará bem e já nos imagino correndo por entre as árvores do bosque, brincando de se esconder.
Que os anjos estejam ao seu lado, pois o meu coração já está em suas mãos. Te amo Papai.
Sua querida filha, Bella.

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